13 de Maio · 2021

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Maria Luciano: de babá a programadora

Jovem do Complexo do Alemão buscou requalificação para fugir do desemprego e ingressar no mercado da tecnologia Por Mayhara Nogueira

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O anúncio do Vai na Web, em uma rede social, mudou toda a história de uma jovem, que faria parte de mais um número dentro da estatística do desemprego no Brasil. Na época, Maria Luciano da Silva tinha 30 anos, estava desempregada e com pouca perspectiva, quando descobriu a oportunidade de estudar programação de forma gratuita no Complexo do Alemão, comunidade onde mora. Apesar do anúncio oferecer vaga para estudantes de até 29 anos, ela insistiu: “Era a minha chance de me encaixar novamente no mercado de trabalho”, lembra.

Maria é uma, entre tantos brasileiros, que busca requalificação para o novo momento do mercado de trabalho. Se por um lado, a extinção de funções e o subemprego se tornaram uma realidade dura em todo o mundo, por outro surgem novas profissões e aumenta o número de oportunidades no setor da tecnologia. Segundo levantamento da IDC, a América Latina terá mais de 450 mil vagas no mercado de TI em 2019, principalmente em novas tecnologias como inteligência artificial, computação em nuvem, segurança cibernética, dados, entre outros.

Por isso, a requalificação se tornou uma das prioridades mundiais no combate à ampliação das desigualdades econômicas e sociais. Até 2022, mais da metade dos profissionais (54%) precisarão de treinamento para ascender da “Indústria 4.0”, afirma o relatório “Towards a Reskilling Revolution”, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial.

Com o programa de capacitação do Vai na Web, Maria Luciano tomou consciência da ascensão do mercado digital e, hoje, com 32 anos, busca novas habilidade e aprimoramento profissional. Mas o seu caminho não foi fácil.

“Eu sou o exemplo de aprimoramento”

A jovem, que tinha o sonho de ser professora, e fez magistério, migrou da Paraíba para o Rio de Janeiro com ímpeto e objetivo claro: mudar de vida e adquirir a sua independência. No entanto, a sua realidade foi semelhante a de outros trabalhadores recém-chegados. Ela passou seis anos trabalhando como doméstica e babá até conhecer o desemprego, e então passar a vender bijuteria, de forma autônoma, para sobreviver. Foi quando viu o anúncio do Vai na Web.

“Já na entrevista, ouvi e aprendi coisas que nunca tinha vivenciado”, lembra. “Quando comecei o curso, me senti motivada de uma forma que eu nem sei explicar. Não perdia nenhuma aula”, conta Maria Luciano, que não esquece a rotina e o sentimento de medo de um morador de favela.

Para frequentar o programa, ela caminhava 40 minutos por dentro do Complexo do Alemão, onde mora, rumo ao pólo onde o programa atuava. “Fazer esse trajeto, às vezes debaixo de tiroteio, buscando abrigo, é quando você passa a ter a noção de quanto a sua vida vale”, reflete. “Mas mesmo assim, quis continuar, porque eu tinha a consciência da oportunidade e precisava agarrá-la com todas as minhas forças.”

A tecnologia acabou abrindo portas para a jovem, que incentivada pelo Vai na Web, prestou vestibular e recebeu bolsa integral para cursar Processos Gerenciais, na Faculdade Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro. “Nem acreditei que havia passado! Foi alegria com misto de outras emoções, pois eu seria a primeira da minha família a ter um ensino superior”, lembra Maria Luciano, que quase presenciou o fim de um sonho por falta de R$ 80 para a documentação.

“De um grande quantidade de documentos autenticados, exigidos pela faculdade, faltaram apenas dois. Mas havia acabado o dinheiro. Quase desisti", lembra. "Foi o momento que realmente contei com a sorte, pois uma pessoa do grupo de bolsistas, que mal me conhecia, me ofereceu o valor necessário. Daquele momento em diante, a palavra ‘desistir' saiu do meu vocabulário.”

Maria Luciano teimou com a vida, que a retribuiu. Este ano, ela foi contratada como assistente administrativa de uma empresa de tecnologia e, quando necessário, ajuda os jovens do Estúdio Vai na Web na gestão de projetos. “O Vai na Web é o exemplo de um programa gratuito que aprimora as pessoas. Eu sou o exemplo de aprimoramento”, afirma. “Não quero parar. Quero continuar estudando, terminar a faculdade e fazer um mestrado, sempre evoluindo na área da tecnologia. E, quem sabe, levar o Vai na Web para o Nordeste?”

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Vai na Web é um programa gratuito que leva tecnologia avançada e valores humanos para regiões de conflito armado no Rio de Janeiro. Para conhecer a rotina dos estudantes e mais informações da iniciativa, acesse o nosso perfil no Instagram, Facebook ou Twitter.

Vai Na Web,

O Vai na Web é um movimento de alta tecnologia e impacto social que amplia as capacidades humanas e as requalifica para encarar os desafios da indústria 4.0.